quarta-feira, 12 de março de 2008

DANCE DANCE DANCE

O assunto sobre dança na Igreja tem provocado algumas polêmicas, dentro desse assunto existem duas linhas de pensamento: os que defendem a dança na Igreja e os estudiosos que repudiam essa prática (que é o caso desse que vos escreve). Vejamos pois, as duas opiniões:
O argumento de quem defende essa prática esta fundamentado basicamente em dois textos do Antigo Testamento, a saber: Ex 15.20 e I Cro 15.29. No primeiro texto aparece Mirian dançando e no segundo supostamente Davi esta dançando também.
Mas será que o fato de Davi e Mirian terem dançado no Antigo Testamento traz isso como doutrina para a igreja de Cristo? Vejamos:

1. ETIMOLOGIA
Todas as palavras traduzidas no Antigo Testamento como “dança” ou suas derivações (hebr. Machowl, lyx chiyl, raqad; greg. choros) podem ser traduzidas como: torcer, girar, dançar, contorcer-se, temer, tremer, trabalhar, estar em angústia, estar com dor, saltitar, dança circular, dança, baile, festa. Isto significa dizer que essas palavras são polissêmicas, isto é, têm vários significados.
Portanto no caso do texto de I Crônicas 15.29 onde Davi aparece dançando adiante da arca poderíamos dizer que de acordo com o original Davi pulou, saltou, rodopiou, etc.
Tendo em vista as varias possibilidades de tradução, é obvio que não podemos extrair uma doutrina de um texto veterotestamentário muito menos de uma palavra que tem varias traduções.
Todas as doutrinas Bíblicas devem estar fundamentadas tendo como base os textos do Novo Testamento.

2. ENSINO DO ANTIGO TESTAMENTO
Todas as vezes que se encontra alguém dançando no Antigo Testamento essa dança sempre está relacionada a um contexto de guerra vencida, uma zombaria ao inimigo derrotado (Ex 15.20; Jz 11.34; 1 Crônicas 13.8; 15.29; 2 Samuel 6.14), todavia, não é encontrado no Antigo Testamento nenhum texto em que alguém dance num culto litúrgico, ou seja num culto de adoração ao Deus de Israel.
Para refrescar nossa memória, lembremos como era o culto ao Deus de Israel no Antigo Testamento:
No templo, o culto era o mais impeditivo possível. Os que entravam no átrio eram somente os sacerdotes, den­tre esses somente o sumo-sacerdote adentrava ao santo dos santos. Do “au­ditório” não se ouvia nenhum som de louvor. Os cantores, ministros do canto, entoavam os louvores (estes eram tam­bém sacerdotes). Ao povo em geral não era dado o direito de pisar o átrio. Os homens tinham o seu espaço, as mulhe­res outro mais atrás, os gentios atrás do muro. O culto ainda incluía os rituais de sacrifícios de animais. Imaginemos se no meio de todo esse ritual alguém começasse a dançar. Certamente seria morto!
No culto ao Deus de Israel não existia dança, todavia no culto aos ídolos e falsos deuses a dança estava presente na liturgia, isso fica claro em Ex 32.19 onde o povo que acabara de sair do Egito começa a adorar o bezerro de ouro com danças.
Portanto, no culto do Antigo Testamento não existia dança, isso se dava somente no culto aos deuses pagãos

3. ENSINO DO NOVO TESTA­MENTO
No Novo Testamento a palavra paizo” ocorre somente em 1 Corintios 10.7, fa­zendo citaçâo do Velho Testamento em Exodo 32.6. E o repudiar de todo culto pagão. Aqui está relacionado com a ido­latria. O texto de Exodo se refere a uma dança cúltica. Como em Gênesis 26.8; 39.14-17, a palavra que ali aparece tem um sentido erótico. Assim pode ela de­notar, tanto, idolatria, como licensiodade cúltica: freqüentemente com ela associ­ada. Tertuliano, em De Jejunio, fala seis vezes do ‘Lusus Impudicus se referin­do ao acontecimento narrado em Exodo 32.6, descrevendo aquela manifestaçâo,
portanto, como danças vergonhosas.
Para os crentes coríntios, também, a di­versâo das festas sacrificiais era uma grande tentaçâo à idolatria.
Se a palavra ‘paizo”é encontrada uma única vez, sua correlata “empaizo” e encontrada mais vezes. Seus signifi­cados são: “jogar’ “dançar ao redor; “caçoar’; “ridicularizar “iludir’ “defrau­dar’: Esta palavra pertence ao grupo das usadas para “depreciaçâo” ou ‘baixa estima dos outros, em palavras, atitu­des e gestos,“insulto’; “escárnio’ “ridi­cularizar”, “levantar o nariz”, “balançar a cabeça’ ‘bater as mãos como sinal de insulto ou escárnio”, ‘fazer brincadeiras’:
Deriva de “arrogancia’ ‘mostrar superio­ridade”, “hostilidade” e ‘aversâo” (Gn 19.14; Is 28.7 e seguintes).
Todas as outras passagens referem-­se a Jesus Cristo. Na predição de sua paixâo a encontramos em Mateus 20.19; Marcos 10.34; e Lucas 18.32. Ali, esta palavra é sempre traduzida por “escar­necer’S Também na história de sua pai­xâo, cumprindo suas proprias prediçôes
- Marcos 15.16-20, e Mateus 27.27-31. O ato dos soldados colocando uma co­roa de espinhos, um manto de púrpura, saudando-o, golpeando-o com um cani­ço, cuspindo e curvando-se diante dele, constitui o escámio. O texto de João 19.1-3, usa esta palavra para descrever o in­cidente como um todo. E o espetáculo. Mateus 26.67-68, Marcos 14.65 e Lucas 22.63-65 têm sua contrapartida em Jeremias 51.18, pois os ídolos são obje­tos de escárnio “obra ridícula”. Assim tra­tavam a Cristo, representando um macabro bailado ao seu derredor. Este Jesus que arroga ser Deus, nâo é outra coisa nesta sanha diabólica, senâo “obra ridícula’: E o inferno que se levanta con­tra o Ungido de Deus. Cristo em sua ago­nia é a ridícula personagem da coreo­grafia satânica.
Portanto, não encontramos no Novo testamento nenhum apostolo, nenhum membro da igreja primitiva e nem Jesus dançando ou ensinando alguém a fazê-lo em um culto de adoração a Deus. Não há respaldo Bíblico.

4. ANÁLISE EXEGÉTICA
É do conhecimento dos estudiosos da Bíblia que algum fato ou lição do Antigo Testamento só pode servir como doutrina, isto é, regra de fé e prática, quando esse fato ou lição encontrar suporte no Novo Testamento.
Ora, o fato de Davi e Mirian terem dançado não significa de modo algum que podemos trazer isso como prática para a igreja neotestamentária, se assim fora o fato de o povo de Deus ter guardado o sábado, rasgado suas vestes, etc, no Antigo Testamento nos obrigaria a fazê-lo também, mais isso não é possível por falta de respaldo no Novo Testamento. Isso, nós bem sabemos, é um princípio hermenêutico.
Primeiro que, quando Mirian dançou, ela havia acabado de sair do Egito, mostrando que sua dança era algo que ela havia aprendido no Reino de faraó. Segundo porque, quando Davi dançou diante da arca essa palavra dança pode ser traduzida como pular, zombar, etc.

5. ANÁLISE ECLESIOLÓGICA
Estudando a eclesiologia encontramos os vários ministérios que Jesus instituiu na Igreja.
O Novo Testamento revela-nos todos os ministérios existentes na igreja, a saber:
Apóstolos, profetas, evangelistas, pastores, mestres(Ef 4.11); há também uma lista em 1Co 12.28.
Não encontramos nenhum respaldo bíblico para dizer que existe um “ministério de dança ou de coreografia”. Se fossemos transformar em ministério todo fato existente na bíblia teríamos que fazer também um “ministério do vaso de alabastro” por exemplo, simplesmente por que alguém adorou a Jesus dessa maneira.
Não é qualquer coisa que pode entrar na liturgia de um culto de adoração neotestamentário
O apóstolo Paulo confirma isso em1Co 14.26: “Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo(louvores), tem doutrina(Palavra), tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação”.(ênfase minha).
Paulo de maneira alguma cita nessa lista a coreografia. Portanto vemos claramente que isso não era uma prática da igreja primitiva. Paulo ainda enfatiza que tudo que for feito em um culto tem que ser feito para “edificação do Corpo”.

6. A HISTÓRIA
I – A Reforma Protestante
Segundo o pensamento reformado para que uma prática entre dentro da liturgia do culto cristão não basta tão somente que essa pratica não seja proibida nas páginas do Novo Testamento, mesmo não sendo proibida ela precisa estar ratificada, isto é, confirmada no Novo Testamento, pelos Pais Apostólicos e ainda pelos Pais da Reforma.Segundo John Knox (um dos reformadores da igreja), Todas as práticas e observâncias na igreja que não têm autoridade escriturística, devem ser abolidos. Ele entendeu que o homem por si mesmo não pode decidir como Deus deve ser adorado. Somente Deus pode determinar isto.Dt 4.2 “Não fareis tudo o que bem parece aos seus olhos para o Senhor teu Deus, mas o que o Senhor teu Deus te ordenou; não acrescentareis nada; nem diminuireis dela”. Ou seja, não podemos acrescentar nada à liturgia ensinada no Novo Testamento, e, outrossim, não podemos tirar nada.Desta maneira podemos observar que não há nenhum texto no Novo Testamento proibindo a missa, ficar de quatro imitando um leão, o vomito santo (doutrina propagada nos EUA), a unção da lagartixa, o cuspi curador, plantar bananeira, etc, (parece brincadeira mas muitas igrejas praticam isso), no entanto, o fato de não ter nenhum texto proibindo essas praticas não indica que podemos colocá-las em ação nos cultos.


SUGESTÃO
“Embora todos esses argumentos sejam sufucientes para repudiar tal prática existem alguns obreiros que insistem em defendê-la, é claro, sem argumento algum. Nós sugerimos a esses queridos defensores que montem um grupo de coreografia de obreiros. E por que não? Se Deus supostamenteaceita a dança como adoração, deveria aceitar então a dança de qualquer pessoa, visto que Deus não faz acepção de pessoas!”

CONCLUSÃO
Concluímos, afirmando que nâo há uma referência sequer que no culto do Novo Testamento tenha havido manifes­taçâo da dança cúltica. Nem mesmo na Igreja dos Pais Apostólicos, e nem ainda na Reforma Protestante do Século XVI. Interessante! Por que não? Pelo menos por quatro razôes:
1. Pelo Tipo de Costume
A dança era um costume pagâo e procurou-se na igreja apostólica evitar qualquer associaçâo. O principio da as­sociaçao deveria ser levado em conta. Nâo somente aquilo que era mal, mas também tudo aquilo que pudesse se pa­recer como mal. Se fizesse o povo lem­brar dos cultos pagâos dos quais muitos crentes eram egressos, evitar-se-ia!
2. Pelas Oportunidades Abertas
Pelo fato, que foi deixado em relevo por Paulo aos Corintios. A dança tenta­va-lhes a idolatria. Abria-lhes as portas à licenciosidade e dava vazão ao erotis­mo.
3. Pela Racionalidade do Culto
Porque o culto do Novo Testamento é adjetivado como “Logikem Latria” (cul­to racional), ou melhor, supra-sensorial. Não necessitamos mais de recursos vi­suais e externos.
4. Dançar é Ridicularizar
E mais importante que tudo, o culto no Novo Testamento nâo permitia a ma­nifestaçao da “dança sagrada” pelo fato de que toda dança, meneio de corpos, requebros, fazia lembrar o escárnio de Cristo. O Dicionário Teológico do Novo Testamento de Kithel afirma: “Seja o fato dos soldados aqui estarem observando um costume (religioso) específico, ou seguindo práticas do sacrifício persa, por exemplo, ou estarem simplesmente expondo o suposto rei dos judeus ao ri­dículo, é muito difícil ter qualquer certe­za. Contudo, é certo que este escárnio se dava num contexto de dança e dra­ma. Um “show”, um espetáculo, um ato público civil e religioso. A dança cúltica fazia os crentes da Igreja Apostólica lem­brarem-se da horripilante coreografia desenhada ao derredor do Salvador.
5. Porque se a dança entrar na igreja por causa de dois textos mal interpretados do Antigo testamento, necessário seria trazer tudo que foi abolido por Jesus para a igreja do Novo Testamento, a saber: o sábado, festas judaicas, costumes de raspar a cabeça, rasgar as vestes, sacrifícios, etc.

Paz do Senhor!